Museu de Antropologia do Vale do Paraíba (MAV) - Depoimentos

O MAV possuiu três fases como prédio, Solar Gomes Leitão ( como a casa de festas do Coronel Gomes Leitão), Escola Coronel Carlos Porto ( onde hoje se encontra em um prédio atrás do MAV) e por fim o Museu de Antropologia do Vale do Paraíba (que permanece até a atualidade).
Para a realização do nosso trabalho, utilizamos depoimentos de pessoas que estudaram no local  escolhido para mostrar a influência e as memórias que cada individuo possui da Escola Coronel Carlos Porto.
Utilizamos três depoimento, sendo elas, Eliana dos Santos Ferreira - ex- estudante e funcionaria aposentada do local -, Andrea de Barros - estudou durante a transição do prédio antigo para o novo prédio onde hoje se encontra a Escola Coronel Carlos Porto -  e por fim Julia Pinheiro de Campos - ex - estudante do prédio atual da Escola Coronel Carlos Porto.

Entrevista Eliana dos Santos Ferreira
Meu nome é Eliana dos Santos Ferreira e eu fui agente cultural pela fundação cultural de Jacareí no museu da antropologia do Vale do Paraíba. Estudei no prédio onde agora abriu o museu, antigamente era a escola Coronel Carlos Porto. Eu estudei em 1969 a 1978 e fiz o ensino fundamental lá. Na minha época era muito gostoso estudar, os professores eram muito exigentes também, mas tinha também um envolvimento com os colegas e com o dia a dia na luta de ter que aprender, porque naquela época se você não aprendia, você era retido. Era um ensino diferente. Foram 9 anos que fiquei na escola Coronel Carlos Porto, dentro do prédio do século 19, que eu gosto muito.
Eu lembro que no primeiro dia de aula eu chorei muito, eu vim de uma fazenda em Caraguatatuba, então era muito tímida e o que eu me lembro das apresentações, do dia da árvore (cada dia era comemorado algo), onde nós plantávamos uma árvore, no fundo da escola que era uma área muito grande. Ás vezes os alunos escapuliam e eu ia junto, (para cabular aula). Eu gostava dos professores, alguns eram amáveis. Tinha na esquina da escola um barzinho que eles serviam simplesmente pão com molho e aquilo gravou na minha mente, gostava também do que serviam na cantina: um leite que eles batiam, que era muito gostoso! E das matérias, o que mais eu gostava era Geografia e História. Então, eu acabei ficando nessa escola e era prazeroso estudar, não sei como vocês pensam, mas naquela época nós crianças gostávamos mais do dia a dia, não guardar tudo como lembrança, a gente lembra depois de muito tempo, mas naquela época era mais estudar, se divertir e fazer amizades. Eu passei de ano e depois foi a formatura, foi no Trianon clube, após 9 anos, como o tempo passou! Em 1997, eu fui chamada para um concurso público da Fundação Cultural, para ser agente cultural como falei inicialmente, mas passando uns 3 anos eu vim pro Museu de Antropologia e fiquei no museu até minha aposentadoria. Eu monitorava o público e também no final eu ficava na reserva técnica. Eu gostava de demonstrar no monitoramento o que eu aprendi  sobre as exposições, porque primeiro nós tínhamos que ter um aprendizado para poder passar para o público, então eu gostava muito disso, de ler, de se interar sobre o assunto e de passar para o público, principalmente, para os estudantes, que iam visitar o museu. Foi uma experiência muito gostosa, foram muitos anos de aprendizado também e nos últimos anos, foram os 2 anos mais significativos, pois eu fiquei na reserva técnica, nós cuidávamos (eu e a Patrícia) da parte religiosa, fazíamos higienização, catalogação, fora os objetos que existiam na reserva, mas eu gostava mais da arte religiosa, porque contava uma parte da nossa história, eram raras as imagens. Tinha que ter muito cuidado na preservação. Uma coisa interessante que percebi foi que o prédio antigo do século 19, ele me acolheu em duas fases da minha vida, como aluna e depois como funcionaria.

Entrevista Andrea De Barros
Eu estudei no Carlos Porto quando eu estava no segundo ano, eu tinha 7 anos (mais ou menos) e fui até a 5 série e o que me lembro muito é que nessa primeira fase que eu estudava e hoje o prédio é o museu, tinha muitas lendas e eu era criança e tinha lendas do tipo “olha não pode descer naquele pátio, embaixo sozinha porque ali tem várias pessoas que morriam e foram emparedadas, e ali estão todos os corpos” então a gente morria de medo, aí a gente descia uma escada de madeira para ir embora, e essa escada rangia muito porque era uma escadaria enorme, então tinha todo aquele clima fantasmagórico e eu tinha medo de ficar sozinha na escola, e eu era lenta era uma das ultimas pessoas que terminavam as atividades e a professora ao invés de deixar a gente na sala, colocava a gente em um corredor para terminar a lição, além de humilhante eu tinha medo, eu pensava (meu Deus, todos os alunos já vão embora e eu vou ficar aqui porque não terminei e vai aparecer algum fantasma) então tinha todos esses fantasmas associado ao local. E também as salas eram lindas e tinha aquela sacada que na verdade o espaço dela, você colocava um pé, era minúscula e a gente queria ir lá, mas não podia, porque aquilo poderia cair.
A parte boa começou no prédio novo, porque quando o prédio foi inaugurado, eu peguei a primeira turma de 5 série, era um prédio que tinha uma arquitetura muito moderna, modernista, concreto, não tinha uma grade, tudo era baixo e não tinha nada seguro pra uma criança, nada seguro em termo de preocupação com pessoas entrarem na escola ou o aluno sair, então era tudo muito bonito, moderno, novo e a gente se sentiu muito adulto, foi uma coisa muito marcante pra mim, foi uma transição, pra uma adolescente que eu já me sentia muito jovem. Me lembro que tinha uma cantina bem em frente a escola, então era superlegal tentar arrumar alguém pra comprar comida lá fora, pirulito e só porque foi comprado fora da escola era mais legal. E também tinha uma escadaria que dava pro prédio antigo e que todo intervalo eu sentava lá e meio que a turma mais legal ficava em um determinado local da escadaria, (tinha todas aquelas bobagens de escola). Me esqueci, fui até a 8 série lá, por isso agora estou me lembrando muitas coisas do prédio novo, e eu me lembro muito de um calçadão em frente, era como uma rampa e eu chegando na escola e vendo quem já estava lá, começar a paquerar, começar os namoros, paixões, ver quem eram os alunos novos, me lembro que ia a pé pra escola, todo mundo ia se vendo pelo caminho, todos meio que moravam aos arredores e a lembrança que eu tenho mais recente é quando eu ia pro Carlos Porto pra votar, e me dava uma tristeza de ver como aquele prédio ficou feio, em termos de segurança, o projeto foi fechado, ao contrário do que era, e eu me lembro que a biblioteca era muito linda, na primeira fase, e os laboratórios, aquele prédio novo era incrível, estimulante, gostoso de estudar lá, parecia uma escola do futuro, meio que um paradoxo que era o passado (o prédio antigo) e de repente um futuro (o prédio novo).

Entrevista Juliana Pinheiro de Campos
Meu nome é Juliana Pinheiro de Campos, e estudei durante 3 anos na escola Carlos Porto (entrei no ano de 2004), o que mais me marcou na escola, foi um inspetor chamado Tóninho, ele era uma boa pessoa e todos da escola respeitava - o por ser muito rígido e estar sempre com a cara fechada, me lembro que quando eu e minhas amigas ficávamos andando pela escola, ele só apontava o dedo em direção a sala de aula, nós dávamos risadas e imediatamente entrava na sala, mas em 2006 no fim do semestre o inspetor saiu da escola e foi onde tudo se tornou uma bagunça, ninguém respeitava o novo inspetor e os alunos entravam e saiam a qualquer hora da escola. A escola tinha uma boa estrutura, as salas de aula tinham mesas velhas, mas também tinham mesas novas, a única parte da escola que não era limpa, eram os banheiros, alguns não tinham portas e o banheiro inteiro tinha pichações. A comida parecia muito boa, porém eu nunca comi, sempre comprei comida em uma cantina que vendia lanches, pipocas e balas.
A biblioteca da escola e a sala de vídeo eram lindas, porém tinha - se muitas regras por contas de os alunos roubarem livros e equipamentos dos computadores. Algo que também me marcou na escola era um gato, ele ficava no pátio todos os dias, era como uma atração na escola e todos os alunos davam carinho e comida pra ele, mas o inspetor não deixava o gato entrar na sala de aula por conta dos alunos não prestarem atenção na aula, e sim, só no gato. 

*Os depoimentos retratados foram recolhidos através de transcrições de áudios feitos pelos entrevistados.


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