Linguística x Gramática

   A Gramática tem como finalidade orientar e regular o uso da língua, estabelecendo um padrão de escrita e de fala baseado em diversos critérios. Em se tratando de Gramática, tem-se como matéria-prima um sistema de normas, o qual dá estrutura à língua. Tais normas definem a língua padrão, também chamada língua culta ou norma culta. Por ser um organismo vivo, a língua está sempre evoluindo, o que muitas vezes resulta num distanciamento entre o que se usa efetivamente e o que fixam as normas. Isso não justifica, porém, o descaso com a Gramática. Imprecisa ou não, existe uma norma culta, a qual deve ser conhecida e aplicada por todos.
   A Gramática tem o ponto de vista normativo, aquele que busca a padronização da língua, estabelecendo as normas do falar e escrever corretamente. A tarefa do gramático é dizer o que é a língua, descrevê-la e ao privilegiar alguns usos, dizer como a mesma deve ser.
   A gramática é apenas uma descrição formal da língua. Mas nem sempre ela leva em conta a lógica e as necessidades impostas pela comunicação. Muitas das escolhas gramáticas são aleatórias e artificiais. O caso dos verbos irregulares é exemplar. Os gramáticos nos dizem para para falar/escrever “eu comi”, mas não podemos fazer o mesmo com “eu fazi”. “Comer” e “fazer” têm a mesma terminação, portanto, poderiam assumir a mesma forma no passado perfeito. A única explicação para isto não ocorrer é alguém em algum momento escolheu a forma “eu fiz” por alguma razão desconhecida.
   Ela preocupa-se com a forma e tem por objeto a linguagem congelada no tempo (quase sempre em um passado remoto). Não possui o status de ciência, ela baseia-se em especulações sobre “certo” e “errado” e não tem comprovações empíricas e objetivas. É pautada em uma orientação prescritiva normativa.
   Para a gramática tradicional o único objeto de estudo a ser estudado e difundido pela escola é o uso considerado correto da língua.

   Linguística é a ciência que se ocupa em estudar as características da linguagem humana. Como toda a ciência, ela baseia-se em observações conduzidas através de métodos, com fundamentação em uma teoria. O linguista é responsável por analisar e investigar toda a evolução e desdobramentos dos diferentes idiomas, bem como a estrutura das palavras, expressões idiomáticas e aspectos fonéticos de cada língua.
   O “pai” da linguística moderna foi o suíço Ferdinand de Saussure, que contribuiu imensamente para esta ciência graças ao seu estudo sobre a língua e a fala.
   De acordo com os estudos de Saussure, a linguagem humana é composta por vários fatores, sendo a língua algo que foi imposto ao indivíduo, pois pertence ao coletivo. Já a fala é algo individual, um ato particular de cada pessoa.
   A linguística tem o ponto de vista descritivo, sendo a fala de uma língua, descrevendo-a simultaneamente no tempo, analisa as relações existentes entre os fatos linguísticos em um estado da língua, além de fornecer dados que confirmam ou não as hipóteses.              Modernamente, ela cede lugar à Linguística Teórica, que constrói modelos teóricos, mais do que descreve.
   A abordagem descritiva, entende que as variedades não padrão do português caracterizam-se por um conjunto de de regras gramaticais que diferem daquela do português padrão.
   Ela analisa as frases realizada num corpus (conjunto de dados organizados com uma finalidade de investigação) representativo. Nesse corpus não há somente as frases “corretas”, mas também todas as frases que apareçam na fala dos locutores nativos da língua.
   A linguística é empírica pois trabalha com dados verificados por meio de observação. É objetiva pois examina a língua de forma independente, livre de preconceitos sociais ou culturais associados a uma visão leiga da linguagem.

"A linguística é o estudo científico da linguagem humana. Diz-se que um estudo é científico quando se baseia na observação dos fatos e se abstém de propor qualquer escolha entre tais fatos, em nome de certos princípios estéticos ou morais. ‘Científico’ opõe-se a ‘prescritivo’. No caso da linguística, importa especialmente insistir no caráter científico e não prescritivo do estudo: como  o objeto desta ciência constitui uma atividade humana, é grande a tentação de abandonar o domínio da observação imparcial para recomendar determinado comportamento, de deixar de notar o que realmente se diz para passar a recomendar o que deve dizer-se." 

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