Construindo sentidos no texto: Organização estrutural e processamento textual
Foi retificado na aula de organização estrutural algumas das principais categorias teóricas de analise relacionadas a esse tema, as estratégias de processamento e funcionamento e ao contexto interacional.
I - Processamento textual – O texto deve sempre ser entendido como um processo que acontece através de sistemas de conhecimentos acionados no texto e no contexto de produção.
Na produção textual, toda ação é necessariamente acompanhada de processos de ordem cognitiva, de maneira que a pessoa dispõe de modelos e tipos de operações mentais. Os interlocutores possuem conhecimentos prévios e acumulados de atividades em vida social e experiências que devem ser acionados para que a atividade seja cumprida com sucesso.
Considerando o texto como um processo definem-se três grandes sistemas de conhecimento, responsáveis pelo processamento textual:
1 - Conhecimento linguístico – Diz respeito ao conhecimento da gramática, responsável pela organização e escolha do material linguístico no texto.
2 - Conhecimento enciclopédico – Diz respeito as informações armazenadas na memória de cada sujeito. Esse conhecimento de mundo abrange o conhecimento declarativo, manifestado pelos fatos do mundo e o conhecimento intuitivo e episódico adquirido pela experiência de vida.
3 - Conhecimento interacional – Diz respeito a dimensão interpessoal da linguagem e é divido em:
a) Conhecimento ilocucional, meios diretos e indiretos de atingir um objetivo ele nos permite reconhecer o propósito pretendido pelo produtor do texto alvo.
b) Conhecimento comunicacional. São os meios adequados para atingir o objetivo, é a quantidade de informação necessária para que o leitor seja capaz de reconstruir o objetivo da produção do texto.
c) Conhecimento metacomunicativo, são meios de prevenir e evitar distúrbios na comunicação: Atenuação, paráfrases parênteses, etc... e permite o locutor assegurar a compreensão do texto.
d) Conhecimento superestrutural, tem a ver com modelos globais que permitem aos usuários reconhecer um texto como pertencente a um gênero ou esquema cognitivo e nos permite a identificação de exemplares adequados aos diversos tipos de texto.
Essas formas de conhecimento são estruturadas em modelos cognitivos, os conceitos são organizados formando uma rede de relações dado que certo conceito sempre aciona uma serie de entidades que possuem semelhança e fazem parte do conceito.
Construindo sentidos no texto: Organização estrutural e processamento textual
II - Organização estrutural - A organização textual é orientada a partir de três níveis estruturais, inter-relacionáveis entre si:
Superestrutural - ou de nível global, com ênfase nas relações esquemático-cognitivas
Macroestrutural - ou de nível semântico, com ênfase nas relações de coerência textual
Microestrutural - ou de nível de superfície linguística, com ênfase nas relações de coesão textual
1 - SUPRESTRUTURAL, este se refere tanto as estruturas textuais globais que permitem o reconhecimento dos gêneros ou tipos, como também envolve o conhecimento sobre estratégias esquemáticas cognitivas relacionadas a significação global da base textual. São estratégias facilitadoras na produção e recepção de textos que acionam na memória o conhecimento armazenado através de esquemas, frames, scripts e planos.
a) Frames - Certo conjunto convencional de elementos armazenados na memória sem uma organização sequencial que acionamos cognitivamente numa situação de uso. Por exemplo, ao se mencionar o frame “festa de aniversário” acionamos o conjunto “balões, brigadeiros, bolo, vela, crianças, salgados, presentes, etc...” Sem uma ordem necessária para esses elementos.
b) Esquemas - Certo conjunto convencional de elementos armazenados na memória e organizados sequencialmente que acionamos cognitivamente numa situação de uso. Por exemplo, ao se mencionar o esquema “um dia de trabalho” acionamos o conjunto numa determinada ordem “acordar, levantar, fazer xixi, tomar banho, vestir-se, tomar café, sair de casa, chegar ao trabalho, trabalhar até meio dia, sair pra almoçar, etc...”
c) Planos - São modelos de comportamento manifestados pelas pessoas no sentido de alcançarem um certo propósito e que são acionados numa situação de uso. Ao deparar-se com uma situação típica produzida pelo falante, o ouvinte já interpreta suas intenções. Por exemplo, um adolescente que organiza um plano para conseguir dos pais permissão dos pais para viajar sozinho.
d) Scripts - São planos mais estabilizados com rotina bem estabelecida e que geralmente especificam papeis e ações dos interlocutores. Por exemplo, carta de amor, infância, novela, etc...
2 - MACROESTRUTURAL, este se refere às relações de coerência textual, responsáveis por construir a significação global no texto através de processos de produção e compreensão textual. A coerência textual é fundamental para a textualidade, pois ela depende em grande parte do sentido do texto.
A construção da coerência textual depende da organização de fatores de diversas ordens: Linguísticos, cognitivos, socioculturais, internacionais e pragmáticos. É pela coerência que as ideias são conectadas, harmonizadas, não contraditórias, propiciando a compreensão semântica global e é apresentado diferentes níveis de coerência:
a) Coerência Argumentativa - diz respeito às relações de implicação ou de adequação que se estabelecem entre certos pressupostos ou afirmações explicitas colocadas no texto e as conclusões que se tira deles, as consequências que se fazem deles decorrer.
b) Coerência Figurativa - diz respeito à combinatória de figuras para manifestar um dado tema ou à compatibilidade de figuras entre si.
c) Coerência Temporal - é aquela que respeita as leis da sucessividade dos eventos ou apresenta uma compatibilidade entre os enunciados do texto, do ponto de vista da localização no tempo.
d) Coerência Espacial - diz respeito à compatibilidade entre os enunciados do ponto de vista da localização espacial.
e) Coerência no Nível de Linguagem - usando a compatibilidade do ponto de vista da variante linguística escolhida, no nível do léxico e das estruturas sintéticas utilizadas no texto.
São defendidos ainda muitos critérios da textualidade e dentre eles os mais importantes são:
Principio de interpretabilidade: Depende da coparticipação entre produtor e receptor na situação de
comunicação e da intenção comunicativa. Não há textos incoerentes em si, eles são coerentes dentro de
um contexto interacional e o que pode ser incoerente para um pode fazer sentido para outro.
Situação comunicativa: Interfere na produção e recepção do texto e pode ser entendida em sentido escrito num contexto imediato e em sentido amplo num contexto sócio-politico-cultural.
Conhecimento de mundo e conhecimento partilhado: É toda memória de vida armazenada mentalmente, e o conhecimento partilhado nada mais é do que a intersecção de conhecimentos comuns compartilhados por produtor e receptor numa comunicação.
Polifonia: Significa várias vozes, diz respeito ao jogo de vozes e pontos de vista presentes no texto. Muitas vezes a mudança de voz nem sempre aparece nitidamente marcada no texto.
Inferência: Relaciona-se às estratégias cognitivas que, com base no conhecimento de mundo, organizam e acionam os modelos globais de estruturas textuais já citados.
Intertextualidade: É um fator importante para o processamento cognitivo do texto, na medida em que recorre ao conhecimento de outros textos. Todo texto traz em si, em níveis diferentes, um grau de intertextualidade, seja ela explicita ou implícita.
Intencionalidade: Esse critério tem uma forte relação com a argumentatividade e refere-se à forma como os sujeitos usam os textos afim de perseguir e realizar suas intenções, de modo que seus textos produzam-se adequados à obtenção dos efeitos desejados.
Informatividade: É o grau de previsibilidade informacional presente no texto que também está condicionado à intencionalidade e é regulado pelo contexto situacional mais amplo. O grau de informatividade vem imediatamente da relação "dado novo" referente às informações do texto. Um texto pode trazer um nível de informações novas muito alto, intermediário ou baixo. É importante salientar que esse critério também depende da interação emissor e receptor onde um texto pode ter um grau elevado de informações novas para uma pessoa e ter nível zero de informações novas para outra.
3 - MICROESTRUTURAL - Este se refere às relações coesivas lineares que dizem respeito ao modo como os elementos presentes na superfície textual estão interconectados através de recursos linguísticos, constituindo sequencias com maior sentido. Diferente da coerência, coesão diz respeito a estrutura formal do texto, ela é construída através de mecanismos gramaticais (pronomes anafóricos, catafóricos, artigos, elipse, concordância, correlação entre os tempos verbais, conjunções, etc...) que definem as relações entre frase e sequencia de frases por meio de reiteração, de substituição e da associação.
As várias possibilidades de coesão textual podem ser agrupadas em três grandes tipos:
a) Coesão Referencial - Diz respeito aos elementos que tem a função de estabelecer referência. Não são interpretados pelo seu sentido próprio, mas referem-se a alguma outra coisa, relacionando signo ao objeto. A coesão referencial é obtida por meio da substituição e reiteração de termos.
b) Coesão Recorrencial - Esta se dá quando, apesar de retomadas estruturais, a informação progride, o discurso segue adiante. A coesão recorrencial é obtida por meio de recorrência de termos, paralelismo, paráfrase e recursos fonológicos.
c) Coesão Sequencial - Esta tem por função fazer o texto progredir também, encaminhar o fluxo informacional, porém não pela retomada de itens ou estruturas, mas pela sequenciarão das sentenças através de mecanismos temporais e conectivos.
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